Resisti para atender a campainha que já tocava pela segunda vez, mas levantei e atendi o entregador que me trazia uma caixa de papelão, ao primeiro momento, não entendi porque alguém me mandará uma caixa cheia de papéis e cds, mas depois de ter tomado um rápido café e tomado um banho finalmente tinha acordado. Peguei a carta que estava por cima do monte e li.
Uma angustia tomou conta do meu peito, eu me abaixei e ergui a caixa de papelão agora sabendo de seu valor inestimável, e coloquei sobre a mesa da cozinha, peguei alguns textos e cds para uma analise mais demorada, estava tudo ali, até sua caneta favorita, com a qual ela tinha escrito as ultimas anotações sobre seu livro inacabado.
Não me contive e apoiei minha cabeça com as mãos e chorei. As pessoas podem partir de varias formas, sempre esperamos que elas continuem em um lugar melhor, mas o vazio causado por essa ausência às vezes é maior.
E os meus pensamentos escorriam pelos meus braços molhando minha pele, algumas lembranças, alguns futuros, e principalmente a dureza dos verbos conjugados no passado.
-Eu conhecia uma escritora muito boa, adorava seus textos.
-Qual o nome dela.
-Você não deve conhecer, nenhum livro dela foi publicado...
A morte de um jovem choca, de um jovem sonho, de uma jovem idéia porque não fica nada, nada concluído, é apenas triste, insatisfeito e gera uma certa revolta.
Enxuguei meus olhos com as costas da mão, me levantei retirei os textos da caixa e coloquei na prateleira de lembranças na sala, espero apenas que ela seja feliz onde estiver e no que estiver fazendo, mas se um dia ela quiser resgatar esses textos que ficaram na minha lembrança já sabe onde reiniciar a sua busca, mas a ausência às vezes é maior.
Jota "Saudoso"
O Narrador,