21 junho 2007

GRAVURAS DE LUGAR ALGUM

A palma da minha mão pressionava enquanto escorava as maças do meu rosto, os dedos cobrindo os olhos e as suas pontas tacavam o inicio do meu couro cabeludo, meus cotovelos se apoiavam na mesa e o escritório estava vazio, a solidão da terra, de vales que sonham com a água salgada, pela minha varanda nada do que eu já não tivesse visto e o cheiro de jornal velho com incenso, peculiar e triste por não conter nenhum cheiro conhecido, e nenhuma palavra que consolasse esse meu estado de carta presa numa garrafa.
Eu tenho tanta coisa pra falar, tantas filosofias pra viver, tantos pontos pra interligar e paralelas para juntar, mas tudo que sinto e a falta de vontade de mudar o mundo, me desculpe, quem dera fosse humildade, mas não é, gostaria de bater na porta da sua casa e dizer para fugirmos, deixarmos todas as coisas para traz, tudo, deixar o mundo para a sorte que teve até agora, deixar que quem sabe deus ilumine a consciência dos ignorantes e encha a barriga dos que tem fome, esperar que a justiça abra seus olhos e descubra que nunca quis ver, e me deixar, para que eu me vá sem o peso da responsabilidade de cidadão, deixar eu viver em uma casinha de sape e me preocupar apenas com á horta e o pomar fornecidos pela própria flora.
Não é covardia, às vezes gostaria que fosse, mas é cansaço, de viver a vida no limite, de brigar e lutar, ganhar e aprender, perder e sofrer a solidão de apreciar a derrota. Acho que sempre vivi amores platônicos distantes.
E você ainda se pergunta por que você esta lendo esse desabafo de um escritor frustrado, pois digo, com olhar pesado e voz melancólica, sou incompleto, algumas drogas às vezes me fazem esquecer isso, o próprio estudo e conhecimento às vezes me ludibriam como uma droga qualquer, a vida pesa e momentos de sanidade como este, que me encontro totalmente são, e sem ter a visão embaçada por falsas desculpas, a fome existe, a dor é presente, o mundo chora a hipocrisia dos seres que poderiam mudar o mundo.
Animais sofrem por você deliciar com um bife, e crianças morrem de fome enquanto você menospreza uma porção de comida que sobrou no seu prato, pessoas entram em depressão por serem abandonadas e pessoas não dão a mínima para os sentimentos alheios, cada detalhe faz a diferença, cada importância transforma fatos supérfluos em razões de vida.
E eu, aqui continuo escrevendo, não para verem que estou escrevendo, quem importa quem escreveu, o que importa é que está escrito, e nós sabemos, eu gostaria de não saber, viver na imensa felicidade de uma pedra, mas não, a dura e cotidiana verdade é que não passa de palavras gravadas em lugar algum, e que não são atos, eu escrevendo e você lendo.


JOTA “Cotovelos no teclado”
CAMINHOS DA MADRUGADA,

3 comentários:

E eu pensei em escrever, sem saber que já tava escrito.
Agora sei, obvio, porém
Pra dividir a dor voce não é egoista.
Agora olhá só logo logo eu tenho que pegar o onibus.

Mas juro, nem ligo.

jota!
expresso wanilla? ainda não provei...

;)

Gravuras de Lugar Algum

Que pena , que não sei
Não sabemos onde está ou fica Lugar Algum.

Que Pena
Que pena.

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