03 março 2007

MONÓLOGO I

-Não, eu sei que estou errado, mas não vou me desculpar.

Com os olhos negros pintados de forma exagerada, cabelo curto e despenteado, JOTA levou a mão até o bolso da camisa branca.

-Não sei se você lembra, mas é por isso que você me ama, porque eu nunca me arrependo, porque quando eu te conheci, te puxei pelo braço e falei que a festa estava chata, se você não queria dar uma volta.

Retirou um maço de cigarros e um isqueiro.

-Você sorriu para mim e mostrou a aliança de namoro, falou que estava chovendo lá fora, eu disse que já sabia dessas duas coisas e repeti a pergunta, e você veio comigo.

Diferente de todas as pessoas ele não mantinha a cabeça baixa como forma de redenção, puxou um cigarro e colocou entre os dedos, guardou o maço e ficou com o isqueiro na outra mão.

-Nós corremos na chuva, e eu te falei que não esperasse que eu salvasse o mundo, te disse que eu era nada mais que um revolucionário, um revolucionário sem causa, porque para mim o mundo não estava bom, e não me interessava como ia ficar.

Acendeu um cigarro e tragou de forma peculiar, encostou a nuca na parede do quarto e pegou a garrafa de vinho barato que dava um toque ainda mais familiar à cena.

-Eu disse que te amava, você sabia que era verdade, naquele momento era minha única verdade, você sempre soube que eu nunca minto, apenas mudo, e minha opinião muda, minha verdade muda, mas nunca te disse algo que não estava sentindo, confesso eu nunca menti para você.

Deu um gole de forma tão imperceptível que o clima tenso da conversa nem chegou a oscilar.

-Eu sei que um dia você vai embora, espero que demore muito e principalmente que não seja hoje, porque eu te amo, mas você vai partir um dia, e vai voltar um tempo depois e eu ainda te amarei, mais você partirá novamente, e eu não vou morrer de amor esperando que você volte por mais um dia, e você voltará.

Sem qualquer expressão de tristeza, uma lagrima escorreu do rosto dele, e secou antes de tocar o chão.

-Essa é minha sina, nós mudaremos, mais ainda nos amaremos pelo que fomos, por um passado eterno, então não fique com ciúmes de mim, por favor, porque um dia você vai embora, como ela foi.

JOTA “Arrependimento Mata”
CAMINHOS DA MADRUGADA,

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