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Ave César

Poema. (Imagem: Batman the Dark Knight)

Ambivalente

Poema. (Escultura: João Duarte)

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#116

Nocões de Viagens

Dedicatórias. (Foto: Marino Thorlacius)

28 junho 2007

CORRIDA

No dia em que eu que eu nasci não soaram trombetas, e sim um estampido alto me avisando que a corrida acabava de começar, então eu chorei porque por não poder correr mais rápido que o tempo, depois de alguns meses notei que não estava tão longe dele assim, logo comecei a andar, e a vida foi passando, o tempo correndo e eu atrás tentando pegá-lo, com a inocência das crianças que estão dormindo, aos meus seis anos começaram os obstáculos, eu tinha que aprender tudo muito rápido, se não o tempo me deixava para traz, era isso que me falavam e eu animalzinho ainda não domesticado, aceitava essa verdade tentando me encaixar dentro nessa famigerada sociedade, mas o verdadeiro atraso foi mais ou menos aos doze anos, eu tropecei, cai de forma tão cinematográfica que renderia até uma cena, com direito a slow motion, e fiz cena, gritei, xinguei, bati e chorei, e o tempo parou de correr, deu-se um pouco para mim, ajudou-me a levantar e continuar a corrida, agradeci e enquanto limpava a sujeira das minhas roupas, ele disparou novamente e o persegui já sabendo competir.

Corri com sorriso no rosto mais uns dois ou três anos, logo como me disseram estava na pior fase, eu de animalzinho, me tornei um pequeno monstrinho da sociedade, rebelde, fiz birra e parei de correr, sentei numa pedra, o tempo voltou, eu de cara fechada discuti com ele, ele tentou argumentar, não lhe dei chance de terminar, então começou a rodar em volta da pedra e eu ali sentado, simplesmente vendo-o passar, fazendo voltas em torno de uma pedra com um monstrinho a observar, e o tempo é esperto, de tanto velo passar, fiquei entediado, e quando ele passou para parte de traz da pedra dei um salto e corri a frente do meu tempo, mas ele me alcançou pois o tempo é rápido e não fica para trás, então eu sorri, e ele sorriu e começamos a correr juntos.

Às vezes ele faz graça e me deixa um pouco para trás, mas se eu correr mais, sempre terei tempo, depois de tanto brigar eu e o tempo ficamos amigos, e tem vezes que estamos cansados de tanto correr, vencer e conquistar tantas coisas, ai dou um tempo ao tempo, dando um tempo pra mim mesmo.

Agora quando paramos aprendo muito com o tempo, por que o tempo é poeta também, ele que escreve tudo que passa, leva com sigo, um grande caderno chamado memória, e depois de ficarmos muito amigos sempre levo comigo boas histórias.

JOTA “Apostando no tempo”
FABULAS: Meu estranho, Mundo estranho.

22 junho 2007

Devaneios Públicos II

Devaneio n° 483


Estou sentado sobre uma cadeira azul, dessas que se encontra em muitos escritórios, e a cadeira sobre um amontoado de blocos, desses que chamam de prédio, me distraindo com algumas folhas em branco e uma caneta barata escrevendo pequenos textos, e uma pessoa me olha de longe pensando, deve ser um desses poetas.

Devaneio n° 484


Ao amanhecer um passarinho visitou a minha varanda, deu três pulinhos para cá, três para lá e ficou olhando-me com insatisfação, adentrou alguns centímetros pela porta e fechou os olhinhos sacudindo a cabeça como quem diz; -Que cheiro estranho esse seu incenso.

Pequei um biscoito e esfarelei-o, jogando perto da pequena ave, ele comeu uma porção de migalhas, depois me agradeceu com um tímido piado, como que quer dizer; -Muito obrigado pelo biscoito, mas esse incenso não é bom, se eu pudesse te dar uma sugestão diria para acender algo parecido com baunilha que é o meu favorito. E voou.

Devaneio n° 485

Acho que os passarinhos são lindos, mas um pouco atrevidos quando acaba de nos conhecer.
Nota Mental I: Parar de conversar com animais que não conheço.

Nota Mental II: Conseguir um tempo para ir à Festa de aniversário da cidade.

21 junho 2007

GRAVURAS DE LUGAR ALGUM

A palma da minha mão pressionava enquanto escorava as maças do meu rosto, os dedos cobrindo os olhos e as suas pontas tacavam o inicio do meu couro cabeludo, meus cotovelos se apoiavam na mesa e o escritório estava vazio, a solidão da terra, de vales que sonham com a água salgada, pela minha varanda nada do que eu já não tivesse visto e o cheiro de jornal velho com incenso, peculiar e triste por não conter nenhum cheiro conhecido, e nenhuma palavra que consolasse esse meu estado de carta presa numa garrafa.
Eu tenho tanta coisa pra falar, tantas filosofias pra viver, tantos pontos pra interligar e paralelas para juntar, mas tudo que sinto e a falta de vontade de mudar o mundo, me desculpe, quem dera fosse humildade, mas não é, gostaria de bater na porta da sua casa e dizer para fugirmos, deixarmos todas as coisas para traz, tudo, deixar o mundo para a sorte que teve até agora, deixar que quem sabe deus ilumine a consciência dos ignorantes e encha a barriga dos que tem fome, esperar que a justiça abra seus olhos e descubra que nunca quis ver, e me deixar, para que eu me vá sem o peso da responsabilidade de cidadão, deixar eu viver em uma casinha de sape e me preocupar apenas com á horta e o pomar fornecidos pela própria flora.
Não é covardia, às vezes gostaria que fosse, mas é cansaço, de viver a vida no limite, de brigar e lutar, ganhar e aprender, perder e sofrer a solidão de apreciar a derrota. Acho que sempre vivi amores platônicos distantes.
E você ainda se pergunta por que você esta lendo esse desabafo de um escritor frustrado, pois digo, com olhar pesado e voz melancólica, sou incompleto, algumas drogas às vezes me fazem esquecer isso, o próprio estudo e conhecimento às vezes me ludibriam como uma droga qualquer, a vida pesa e momentos de sanidade como este, que me encontro totalmente são, e sem ter a visão embaçada por falsas desculpas, a fome existe, a dor é presente, o mundo chora a hipocrisia dos seres que poderiam mudar o mundo.
Animais sofrem por você deliciar com um bife, e crianças morrem de fome enquanto você menospreza uma porção de comida que sobrou no seu prato, pessoas entram em depressão por serem abandonadas e pessoas não dão a mínima para os sentimentos alheios, cada detalhe faz a diferença, cada importância transforma fatos supérfluos em razões de vida.
E eu, aqui continuo escrevendo, não para verem que estou escrevendo, quem importa quem escreveu, o que importa é que está escrito, e nós sabemos, eu gostaria de não saber, viver na imensa felicidade de uma pedra, mas não, a dura e cotidiana verdade é que não passa de palavras gravadas em lugar algum, e que não são atos, eu escrevendo e você lendo.


JOTA “Cotovelos no teclado”
CAMINHOS DA MADRUGADA,

09 junho 2007

Bilhetes

Sentado na frente de um computador no meu escritório, a fumaça sobe vagarosamente, estranhamente influencia pela musica da Maria Bethânia que tocava, triste e tão poético, penso enquanto minhas conversas por esse meio de comunicação se desenrolam, estranho troco conversas de amigos próximos com pessoas tão distantes, às vezes nem pela própria distancia em si, simplesmente pelo ultimo contato físico real, presente, sem necessitar de nem um meio de comunicação inventado no ultimo milênio, a simples conversa, sem meios de comunicação atuais, minha solidão vai aumentando com a falta de assunto e logo elas voltam para o seu lugar na minha lista de contatos, nada agradável.

Quando as pessoas estão presentes não importa se acaba o assunto elas não somem de nossa frente, elas permanecem ali, porém sem assunto, mas estão ali, algumas vezes isso é tudo que importa, sinto vontade de gritar por estar sozinho, nada necessário, simplesmente por não ter que explicar para ninguém o porque dá quilo.

Algo solitário diria meu analista/amigoimaginário/consciência/psicólogo/ego assim como disse.

Esse é o momento que eu sou assombrado pelos meus próprios demônios, ironicamente me trazem uma mensagem dela dizendo:

Tenha paciência, olhe para a lua e assim verá que não está tão sozinho assim, um dia eu chegarei e nós saberemos que a solidão é a presença de quem ainda não chegou.

Li tão espontaneamente que a opção de não ler foi ignorada pelo habito, parece que meus demônios já não estavam mais lá, no primeiro momento pensei que essa forma de comunicação talvez tivesse sido inventada antes da fala como nós a conhecemos, mas não dissertei muito sobre o assunto.

Acendi outro cigarro e voltei ao meu lugar, ignorei outras tentativas de comunicação alheia e escrevi porque era triste e poético.

JOTA,”A vida através da tela”.
PLATONICOS ,

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